Capítulo 10 Botões Gustativos
Histologicamente, essas estruturas neuroepiteliais formam pequenos aglomerados elipsoides de células incrustadas no epitélio pavimentoso estratificado não-queratinizado característico da mucosa de revestimento especializada da língua, podendo ser encontrados nas superfícies das papilas fungiformes, foliáceas e circunvaladas (a exceção são as papilas filiformes, que cumprem funções mais relacionadas à fricção do alimento com a superfície lingual do que à sensibilidade espacial gustatória). Nessas estruturas neuroepiteliais, é possível distinguir a existência de três populações celulares:
As células basais, que funcionam como células-tronco e se encontram destinadas à reposição contínua das células gustativas.
Já as células gustativas são especializadas na detecção de sabores por meio do reconhecimento de moléculas solúveis dispersas na saliva e se degradam muito rapidamente quando comparadas a outras populações celulares, haja vista suas meias-vidas estimadas de 5 a 10 dias. Cabe ressaltar que essas células são providas de abundantes microvilos apicais que usualmente dispõem de grandes quantidades de receptores metebotrópicos dedicados à percepção dos sabores liberados pela comida e à transdução de sinais elétricos por estes proporcionados.
- Por fim, as células sustentaculares são responsáveis pela sustentação das populações celulares supramencionadas, atuando como um componente estromal dos botões gustativos.
Figura 10.1: Botões gustativos presentes na superfície lateral das papilas circunvaladas. Observe a região do poro gustativo, as células gustativas, as células sustentaculares e a região de sinapse com neurônios sensitivos.
Nesse âmbito, também é válido mencionar que as células gustativas receptoras se encontram divididas em 3 subtipos principais, cada qual dedicado à percepção de diferentes modalidades gustativas. Assim, tem-se que, ao passo que as células gustativas do tipo I se encontram especializadas na captação de informações relativas ao sabor salgado, as células gustativas do tipo II estão voltadas à detecção do doce, do umami (sabor característico de alimentos ricos em glutamato, tais como o peixe cru, os cogumelos e alguns tipos de queijo) e do amargo por meio de receptores metabotrópicos denominados transducinas. Finalmente, tem-se que as células gustatórias do tipo III possuem propriedades características de células excitáveis, sendo capazes de conduzir potenciais de ação e desempenharem respostas elétricas vinculadas aos sabores azedo e salgado por intermédio de despolarizações proporcionadas pela entrada de cátions (Na+ e Ca2+) através de canais iônicos voltagem-dependentes situados nos polos apicais de tais células.
Quando as moléculas responsáveis pela percepção do sabor se dissolvem na saliva e adentram nos poros gustativos, pequenas aberturas por meio das quais o domínio de membrana apical das células gustativas se abre na cavidade oral, ocorre, portanto, o disparo de cascatas de sinalização intracelulares responsáveis por promoverem a exocitose de ATP para a região de contato entre o botão gustativo e ramos nervosos especiais dos nervos facial (NC VII), vago (NC X) e glossofaríngeo (NC IX). Dessa forma, mediante a ativação dessas estruturas nervosas, a informação gustativa é carreada até o córtex gustativo primário, localizado nos giros da ínsula posteriores, por meio de uma trajetória nervosa que passa pelo núcleo do trato solitário (NTS).